A., 
 Sua carta produziu em mim uma idéia. Uma idéia na alma. Na  parte superior da alma como diz Platão. No pensamento. A idéia de pálido. A  estrela que você me deu, a mais bonita que já passou na minha vida, é pálida. As  suas palavras escritas em uma carta estranha, são pálidas. A memória que tenho  de você, de sua pergunta, é como a estrela que você me deu, pálida. Pálido não é  uma cor, não é uma nuance: um rosto pode ser pálido, uma voz pode ser pálida, um  sonho pode ser pálido. Uma lembrança pode ser pálida. O pálido é uma espécie de  quarta dimensão, que quando se acrescenta às coisas, faz com que estas se tornem  belas. A sua carta é um primor; mais do que isto: a sua carta é pálida. E de  hoje para sempre, quando olhar para o céu, verei a estrela que você me deu, a  mais pálida das estrelas.
 A., se nunca mais nos encontrarmos, ainda assim nos  encontraremos, quando olharmos para o céu, para o céu pálido, que você inventou  com a sua carta, e que me deu... o nosso céu. O céu pálido.
 Com toda admiração, e dignidade, presto-lhe uma homenagem  de pensador, ao modo do pensador, homenagem à mais pálida das idéias:  A.
 Texto de Claúdio Ulpiano em http://www.claudioulpiano.org.br
 
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