Escolhi a sombra desta árvore para
repousar do muito que  farei,
enquanto esperarei por ti.
Quem espera na pura espera
vive um  tempo de espera vã.
Por isto, enquanto te espero
trabalharei os campos  e
conversarei com os homens
Suarei meu corpo, que o sol  queimará;
minhas mãos ficarão calejadas;
meus pés aprenderão o mistério  dos caminhos;
meus ouvidos ouvirão mais,
meus olhos verão o que antes não  viam,
enquanto esperarei por ti.
Não te esperarei na pura espera
porque  o meu tempo de espera é um
tempo de quefazer.
Desconfiarei daqueles que  virão dizer-me,:
em voz baixa e precavidos:
É perigoso agir
É perigoso  falar
É perigoso andar
É perigoso, esperar, na forma em que  esperas,
porquê êsses recusam a alegria de tua chegada.
Desconfiarei  também daqueles que virão dizer-me,
com palavras fáceis, que já  chegaste,
porque êsses, ao anunciar-te ingênuamente ,
antes te  denunciam.
Estarei preparando a tua chegada
como o jardineiro prepara o  jardim
para a rosa que se abrirá na primavera.
Paulo Freire
Genève,  Março 1971.
In: Freire, P. Pedagogia da Indignação. São Paulo: UNESP,  2000.
Obrigado por compartilhar palavra e poesia tão únicas. Inté!
ResponderExcluirque delicia de blog.
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