Os amantes se amam cruelmente
e com se amarem tanto não se  vêem.
Um se beija no outro, refletido.
Dois amantes que são? Dois  inimigos.
Amantes são meninos estragados
pelo mimo de amar: e não  percebem
quanto se pulverizam no enlaçar-se,
e como o que era mundo volve  a nada.
Nada, ninguém. Amor, puro fantasma
que os passeia de leve,  assim a cobra
se imprime na lembrança de seu trilho.
E eles quedam  mordidos para sempre.
Deixaram de existir mas o existido
continua a doer  eternamente.
DESTRUIÇÃO, Carlos Drummond de Andrade http://youtu.be/t2tgDk1r0mA