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Masp volta a exibir obra-prima do século XVII

Masp volta a exibir obra-prima do século XVII

3 de setembro de 2009

Por Giovana Pastore

Divulgação

 

A partir da próxima quarta-feira, o Museu de Arte de São Paulo volta a exibir Himeneu Travestido Assistindo a uma Dança em Honra a Príapo, pintura do artista francês Nicolas Poussin (1594-1665). O visitante que comparecer ao Masp, contudo, poderá ver cores a que talvez apenas os homens do século XVII testemunharam.

Após oito meses de restauro, a grande tela - são 3,72 m de comprimento e 1,66 m de altura - volta a ser uma das principais peças do acervo do museu paulistano. A restautação é parte das atividades do Ano da França no Brasil e ficou a cargo da brasileira Regina Costa Pinto Moreira, radicada na França e profissional do Museu do Louvre, de Paris.

O trabalho de recuperação - patrocinado pela empresa francesa CNP Assurances e sua subsidiária no Brasil, a Caixa Seguros, e orçada em 150.000 euros - poderá ser visto em detalhes no museu. Além da obra, estarão expostos detalhes do restauro, como fotografias que compuseram o dossiê que serviu de embasamento científico ao trabalho e também vídeos. O Sesc também prepara um documentário sobre o processo.

Detalhe da obra antes do restauroOs críticos garantem que a importância do pintor e da obra justificam o investimento - e também a visita ao museu. "Esse trabalho de conservação, de manutenção, eu diria até de resgate da obra, é muito importante",afirma Elza Ajzenberg, professora titular da Escola de Comunicações e Artes da USP. Segundo o historiador e crítico da arte Rodrigo Naves, Poussin pode ser considerado um fundador da pintura francesa. "Ele é para a França o que Leonardo Da Vinci é para Itália", explica.

Nascido na França, Poussin realizou boa parte de seus trabalhos em Roma, com os olhos voltados para a cultura greco-romana. As pinturas pelas quais se tornou célebre tratam de temas mitológicos, como a que está no Masp, que retrata um ritual em homenagem ao deus da fertilidade, Príapo. O quadro pertenceu ao rei espanhol Filipe IV e, após as guerras napoleônicas do século XIX, passou pelas mãos de vários colecionadores privados até ser comprado pela galeria de Georges Wildenstein, que o vendeu ao brasileiro Assis Chateubriand, fundador do Masp, em 1953.

A artista - Escalada para recuperar a pintura, a restauradora Regina Costa Pinto Moreira é hoje uma estrela de primeira grandeza no universo da conservação da arte francesa. No currículo, ela acumula a recuperação de obras de gigantes da arte mundial como Goya e Manet. Formada na Espanha, com aperfeiçoamentos no Museu Nacional de Arte Antiga de Lisboa e no Instituto Real do Patrimônio Artístico de Bruxelas, ela entrou para o Louvre por concurso, em 1973. Não saiu mais de lá.

O longo e trabalhoso processo de restauração inclui ainda uma curiosidade: encoberto sob camadas de tinta, estava pintada a figura do pênis ereto da figura mitológica Príapo. A camada, chamada de "repinte de pudor", fora acrescentada por volta do século XVIII: portanto, não existia no original e não atendia à vontade do artista.

"A intenção do restaurador é deixar a obra o mais próximo possível da intenção do artista, removendo as intervenções e repinturas da obra. O repinte sobre o falo era uma delas e foi removido", esclarece Karen Barbosa, restauradora do Masp e coordenadora do projeto. A descoberta não supreeendeu os especialistas. "O Príapo é uma figura ligada à fertilidade e sua representação normalmente vem com o pênis bem em evidência. Os gregos e romanos valorizavam muito o falo e a sexualidade. O fato de Himeneu estar vestido de mulher também é comum, isso era uma constante no teatro grego", conta Elza Ajzenberg.

 

 

 

 

A brasileira que veio do Louvre e 'salvou' Poussin

3 de setembro de 2009

Por Giovana Pastore


A brasileira Regina da Costa Pinto Moreira trabalha no restauro da obra de Poussin no Masp (Foto: Divulgação)
 

Há dez anos o Masp planeja a restauração da pintura Himeneu Travestido Assistindo a uma Dança em Honra a Príapo, realizada pelo pintor francês Nicolas Poussin na primeira metade do século XVII. Desde que a ideia surgiu, a baiana Regina da Costa Pinto Moreira foi o único nome cogitado para realizar o trabalho. "Ela é considerada uma das melhores restauradoras da França. É ela quem coloca a mão nos Leonardos do Louvre", explica Karen Barbosa, restauradora do museu paulistano, referindo-se ao mestre do Renascimento Leonardo Da Vinci. Regina já tocou - e salvou - trabalhos de outros ícones da história da arte, como os renascentistas italianos Rafael e Ticiano e os impressionistas franceses Monet e Manet. Na entrevista a seguir, a restauradora fala de seu trabalho e da emoção de participar da conservação do patrimônio brasileiro.

A senhora teve de abrir mão de muitos projetos na França para vir ao Brasil restaurar a pintura de Poussin. Por que decidiu vir?
À parte a grande importância do quadro, foi por uma razão sentimental. Eu sou brasileira e trabalho no Louvre, então vir para o Brasil restaurar um quadro de Poussin para o Masp foi uma coincidência muito feliz. Eu realmente cancelei muitos projetos, abri mão de muita coisa para poder estar aqui, mas fiz isso porque o projeto me entusiasmou.

Em que estado estava a obra?
O quadro estava muito danificado. Ele tinha rasgos, a pintura estava desgastada. O historiador francês Jacques Thuillier chegou a dizer que era difícil examinar o quadro porque dois terços dele estavam repintados.

Houve alguma particularidade nessa restauração?
Não. Exceto pelo falo de Príapo, que descobrimos sob alguns repintes. Essa foi uma revelação interessante, mas não surpreendeente, afinal Príapo, deus da fertilidade, sempre foi representado com o falo em ereção.

Quem teria coberto o falo?
Sabemos que o quadro ficou até pelo menos 1811 na Espanha e, como há um desenho do século XVIII no qual Príapo já aparece com o sexo escondido, é muito provável que o "repinte de pudor" tenha sido feito na própria corte espanhola.

Houve alguma outra descoberta durante o restauro?
Eu percebi modificações na indumentária do Himeneu. A sua camisa, por exemplo, não era vermelha no original, mas branca.

A senhora já restaurou outras obras de Poussin?
Sim. Eu restaurei Os Instrumentos de Música e A Visão de Santa Maria Romana, ambos do Louvre, e A Tempestade, do Museu de Belas Artes de Rouen.

Qual a importância do trabalho de Poussin?
Poussin é um grande mestre. Na escola francesa, ele tem um lugar muito privilegiado.

A senhora ficou satisfeita com o resultado do trabalho?
Fiquei. A satisfação de ver a obra mais próxima do original é enorme. E ela não é só minha, porque a obra é feita para o deleite do espectador. O fato de eu ter realizado esse trabalho, de tocar na obra, foi uma grande alegria. Além disso, agora a obra está consolidada: os repintes que a descaracterizavam foram retirados e as lacunas, que atrapalhavam a leitura das formas, preenchidas.

A senhora se sente um pouco autora das obras que restaura?
Não, absolutamente. Não devo, nem posso. Eu estou apenas a serviço do pintor. Meu papel é interpretar a obra, estudá-la, compreendê-la e só. Devo interferir o mínimo possível.

A sua restauração tem prazo de validade?
Eu acredito que não, porque empreguei os melhores materiais, que são muito estáveis e cuja aplicação pode ser revertida. Tudo que usamos, inclusive os solventes, vieram da França.

A senhora acredita que seu trabalho abrirá um precedente para outras restaurações de obras brasileiras?
Seria ótimo se isso acontecesse.
 

Hate, Love, Chores: Lorrie Moore's Midwest Chronicle



The New York Times







September 2, 2009

Hate, Love, Chores: Lorrie Moore's Midwest Chronicle

MADISON, Wis. — Lorrie Moore had just begun working on what would become her new novel, "A Gate at the Stairs," when she told one interviewer that she was writing a book "about hate."
Later she recalled telling someone else that it was a novel about chores.
In May, speaking to a roomful of booksellers at BookExpo America, the publishing industry's annual convention, she said she had written a book — her first in 11 years — about a 20-year-old woman because she viewed 20 as "the universal age of passion."
And in a recent interview at a brasserie here, two blocks from her home in a neighborhood of colorful Victorian and prairie-style houses, Ms. Moore described the book as a meditation on "what it meant to be in this town in the Midwest in this particular time in contemporary America."
As it turns out, Ms. Moore's slippery characterizations of "A Gate at the Stairs," published on Tuesday by Alfred A. Knopf, are quite apt.
The novel takes place in the aftermath of 9/11, with the threat of terrorism and war hovering over a liberal university town described as "the Athens of the Midwest."
It also features a prickly couple, Sarah Brink and Edward Thornwood, whose marital relations sometimes veer toward something that looks like hate. Tassie Keltjin, the 20-year-old college student who narrates the novel, falls in love, for the first time, with a mysterious foreign student. Passion ensues.
And about those chores: during one of the book's most startling revelations, the housecleaner can be heard "at the back door, with his stabbing, fidgeting key in the lock and his clanking pails and mops."
Ms. Moore's fans — ardent, even cultish — have been waiting ever since "Birds of America," her last book, a story collection, was published in 1998. That book, widely praised, broke onto the New York Times hardcover fiction best-seller list for five weeks.
It also subjected Ms. Moore, who at 52 still seems girlish with her shoulder-length brown hair and voice that swoops from low to high registers, to the intruding curiosity of those who wanted to know more about her personal life after reading "People Like That Are the Only People Here," a short story about a baby with cancer that Ms. Moore acknowledged was somewhat autobiographical.
"The problem of course is you don't want everyone talking about your kid," Ms. Moore said, recalling the rounds of publicity. "And that was really hard to avoid."
This time around she is remaining circumspect about any autobiographical antecedents to "A Gate at the Stairs," her seventh book.
In one of the novel's central plotlines, Tassie takes a job as a baby sitter working for Sarah, the owner of a local restaurant, and Edward, a cancer researcher, as they adopt a part-black baby girl. As the girl's devoted caregiver, Tassie is exposed to both explicit and implicit racism. Ms. Moore's own teenage son is adopted and part African-American, but she would say only that some of the incidents in the novel may have happened to other children and parents she knew.
Instead she invoked "Madame Butterfly" and "Jane Eyre," works that feature themes of abandonment and orphanhood. "I'm interested in adoption because those kids become Jane Eyre," said Ms. Moore, alternately sipping from a cup of coffee and a small glass of pale Belgian beer. "Not to push the 'Jane Eyre' thing too much, but of course there is that racial aspect to it," she said, alluding to the Creole heritage of the Mrs. Rochester character. "And there's a racial component to 'Madame Butterfly,' so these were the Ur-texts hovering over my desk while I just barreled ahead and wrote a Midwestern story."
As one of the most nuanced writers working today, Ms. Moore is as likely to write about sweeping themes as she is to deliver sharp-witted and trenchant observations about life's small moments. Her career has been building since she sold her first story collection, "Self-Help," at 26, gaining instant literary credibility.
"Moore may be, exactly, the most irresistible contemporary American writer," the novelist Jonathan Lethem wrote in The New York Times Book Review on Sunday. "Brainy, humane, unpretentious and warm; seemingly effortlessly lyrical; Lily-Tomlin-funny. Most of all, Moore is capable of enlisting not just our sympathies but our sorrows."
And in her review last week in The Times, Michiko Kakutani wrote that "in this haunting novel, Ms. Moore gives us stark, melancholy glimpses into her characters' hearts."
In "A Gate at the Stairs" those sorrows and melancholy glimpses come in some brutally heart-rending scenes. "There are times when you feel like stepping into a dark dream, and you really want to travel to some very unhappy place," Ms. Moore said, "in order, in some ways, to close the book and step away from it."
Ms. Moore, who had recently had cataracts diagnosed and sometimes used prescription sunglasses to see inside, said that part of the reason it took her so long to finish the novel was that she could not bring herself to write those devastating passages.
"There were certain scenes that felt so heartbreaking to me that I didn't know how I was going to write them," she said. "I cried all the way through the writing of it."
Then there were the more practical constraints on her time. Since 1984 Ms. Moore has taught creative writing at the University of Wisconsin, Madison, and eight years ago she divorced her husband (no, she doesn't want to talk about it) and is now raising her son as a single mother.
Ms. Moore sees such challenges falling disproportionately on women. "You look out into the world and you say, 'Who are the working — meaning you also have a job, not just writing novels — single moms who are writing novels that you want to read?' " she said.
Jayne Anne Phillips, a fellow writer and fan, said balancing a job and child-rearing with writing had shaped Ms. Moore's work. "The double edge of it is that I think any form of real spiritual surrender does inform one's work," Ms. Phillips said. "But the problem is that oftentimes one doesn't have time to write the work."
In "A Gate at the Stairs" Sarah struggles to juggle her fervent desire to be a mother with her all-consuming job as a restaurant owner. Writing about food allowed Ms. Moore to play with the terminology that was infiltrating menus around town. At one point Tassie reads a menu from Sarah's restaurant:
"There were ramps and fiddleheads, vinaigrettes and roux — summer had not yet taken these away."
And then, in a moment of pure Lorrie Moore-ness, Tassie observes, "Though only now did I realize that roux was not spelled rue, as surely it should be and would be soon."
Although she has spent a quarter-century in the Midwest, Ms. Moore, who commuted between New York and Madison for several years, maintains some of the arch distance of the outsider. Strolling by an Indian restaurant near the state capitol, she sniffed the air and noted: "You walk around and you get a whiff of garlic and you feel like you are in a real city."
But living far from the literary nerve center of New York, she said, has allowed some liberties.
"If you live in Madison, Wis., and teach creative writing, you've already made some decisions about what you're going to do as an artist, and you're quite free to do as you please," she said. "Some people get their books on the best-seller list and then they count the number of weeks, and I just never want to live that way. I already have been luckier than I ever dreamed that I could ever be."







 

El informe de Brodie Jorge Luis Borges

El informe de Brodie
 
[Cuento. Texto completo]

Jorge Luis Borges
 
En un ejemplar del primer volumen de las Mil y una noches (Londres,
1840) de Lane, que me consiguió mi querido amigo Paulino Keins,
descubrimos el manuscrito que ahora traduciré al castellano. La esmerada
caligrafía -arte que las máquinas de escribir nos están enseñando a perder-
sugiere que fue redactado por esa misma fecha. Lane prodigó, según se
sabe, las extensas notas explicativas; los márgenes abundan en adiciones,
en signos de interrogación y alguna vez en correcciones, cuya letra es
la misma del manuscrito. Diríase que a su lector le interesaron menos
los prodigiosos cuentos de Shahrazad que los hábitos del Islam. De David
Brodie, cuya firma exornada de una níbrica figura al pie, nada he
podido averiguar, salvo que fue un misionero escocés, oriundo de Aberdeen,
que predicó la fe cristiana en el centro de África y luego en ciertas
regiones selváticas del Brasil, tierra a la cual lo llevaría su
conocimiento del portugués. Ignoro la fecha y el lugar de su muerte. El manu
scrito, que yo sepa, no fue dado nunca a la imprenta.
 
Traduciré fielmente el informe, compuesto en un inglés incoloro, sin
permitirme otras omisiones que las de algún versículo de la Biblia y la
de un curioso pasaje sobre las prácticas sexuales de los Yahoos que el
buen presbiteriano confió pudorosamente al latín. Falta la primera
página.
 
 
 
"...de la región que infestan los hombres monos ( Apemen) tienen su
morada los Mlch 1, que llamaré Yahoos, para que mis lectores no olviden su
naturaleza bestial y porque una precisa transliteración es casi
imposible, dada la ausencia de vocales en su áspero lenguaje. Los individuos
de la tribu no pasan, creo, de setecientos, incluyendo los Nr, que
habitan más al sur, entre los matorrales. La cifra que he propuesto es
conjetural, ya que, con excepción del rey, de la reina y de los hechiceros,
los Yahoos duermen donde los encuentra la noche, sin lugar fijo. La
fiebre palúdica y las incursiones continuas de los hombres-monos
disminuyen su número. Sólo unos pocos tienen nombre. Para llamarse, lo hacen
arrojándose fango. He visto asimismo a Yahoos que, para llamar a un
amigo, se tiraban por el suelo y se revolcaban. Físicamente no difieren de
los Kroo, salvo por la frente más baja y por cierto tinte cobrizo que
amengua su negrura. Se alimentan de frutos, de raíces y de reptiles;
beben leche de gato y de murciélago y pescan con la mano. Se ocultan
para comer o cierran los ojos; lo demás lo hacen a la vista de todos,
como los filósofos cínicos. Devoran los cadáveres crudos de los
hechiceros y de los reyes, para asimilar su virtud. Les eché en cara esa
costumbre; se tocaron la boca y la barriga, tal vez para indicar que los
muertos también son alimento o -pero esto acaso es demasiado sutil- para que
yo entendiera que todo lo que comemos es, a la larga, carne humana.
 
En sus guerras usan las piedras, de las que hacen acopio, y las
imprecaciones mágicas. Andan desnudos; las artes del vestido y del tatuaje les
son desconocidas.
 
Es digno de atención el hecho de que, disponiendo de una meseta
dilatada y herbosa, en la que hay manantiales de agua clara y árboles que
dispensan la sombra, hayan optado por amontonarse en las ciénagas que
rodean la base, como deleitándose en los rigores del sol ecuatorial y de la
impureza. Las laderas son ásperas y formarían una especie de muro
contra los hombres-monos. En las Tierras Altas de Escocia los clanes erigían
sus castillos en la cumbre de un cerro, he alegado este uso a los
hechiceros, proponiéndolo como ejemplo, pero todo fue inútil. Me
permitieron, sin embargo, armar una cabaña en la meseta, donde el aire de la
noche es más fresco.
 
La tribu está regida por un rey, cuyo poder es absoluto, pero sospecho
que los que verdaderamente gobiernan son los cuatro hechiceros que lo
asisten y que lo han elegido. Cada niño que nace está sujeto a un
detenido examen; si presenta ciertos estigmas, que no me han sido revelados,
es elevado a rey de los Yahoos. Acto continuo lo mutilan (he is
gelded), le queman los ojos y le cortan las manos y los pies, para que el
mundo no lo distraiga de la sabiduría. Vive confinado en una caverna, cuyo
nombre es Alcázar (Qzr), en la que sólo pueden entrar los cuatro
hechiceros y el par de esclavas que lo atienden y lo untan de estiércol. Si
hay una guerra, los hechiceros lo sacan de la caverna; lo exhiben a la
tribu para estimular su coraje y lo llevan, cargado sobre los hombros, a
lo más recio del combate, a guisa de bandera o de talismán. En tales
casos lo común es que muera inmediatamente bajo las piedras que le
arrojan los hombres-monos.
 
En otro Alcázar vive la reina, a la que no le está permitido ver a su
rey. Ésta se dignó recibirme; era sonriente; joven y agraciada, hasta
donde lo permite su raza. Pulseras de metal y de marfil y collares de
dientes adornan su desnudez. Me miró, me husmeó y me tocó y concluyó por
ofrecérseme, a la vista de todas las azafatas. Mi hábito (my cloth) y
mis hábitos me hicieron declinar ese honor, que suele conceder a los
hechiceros y a los cazadores de esclavos, por lo general musulmanes, cuyas
cáfilas (caravanas) cruzan el reino. Me hundió dos o tres veces un
alfiler de oro en la carne; tales pinchazos son las marcas del favor real y
no son pocos los Yahoos que se los infieren, para simular que fue la
reina la que los hizo. Los ornamentos que he enumerado vienen de otras
regiones; los Yahoos los creen naturales, porque son incapaces de
fabricar el objeto más simple. Para la tribu mi cabaña era un árbol, aunque
muchos me vieron edificarla y me dieron su ayuda. Entre otras cosas,
yo tenía un reloj, un casco de corcho, una brújula y una Biblia; los
Yahoos las miraban y sopesaban y querían saber dónde las había
recogido. Solían agarrar por la hoja mi cuchillo de monte; sin duda lo veían de
otra manera. No sé hasta dónde hubieran podido ver una silla. Una casa
de varias habitaciones constituiría un laberinto para ellos, pero tal
vez no se perdieran, como tampoco un gato se pierde, aunque no puede
imaginársela. A todos les maravillaba mi barba, que era bermeja entonces;
la acariciaban largamente.
 
Son insensibles al dolor y al placer, salvo al agrado que les dan la
carne cruda y rancia y las cosas fétidas. La falta de imaginación los
mueve a ser crueles.
 
He hablado de la reina y del rey; paso ahora a los hechiceros. He
escrito que son cuatro: este número es el mayor que abarca su aritmética.
Cuentan con los dedos uno, dos, tres, cuatro, muchos; el infinito empieza
en el pulgar. Lo mismo, me aseguran, ocurre con las tribus que
merodean en las inmediaciones de Buenos-Ayres. Pese a que el cuatro es la
última cifra de que disponen, los árabes que trafican con ellos no los
estafan, porque en el canje todo se divide por lotes de uno, de dos, de
tres y de cuatro, que cada cual pone a su lado. Las operaciones son
lentas, pero no admiten el error o el engaño. De la nación de los Yahoos, los
hechiceros son realmente los únicos que han suscitado mi interés. El
vulgo les atribuye el poder de cambiar en hormigas o en tortugas a
quienes así lo desean; un individuo que advirtió mi incredulidad me mostró
un hormiguero, como si éste fuera una prueba. La memoria les falta a los
Yahoos o casi no la tienen; hablan de los estragos causados por un
a invasión de leopardos, pero no saben si ellos la vieron o sus padres
o si cuentan un sueño. Los hechiceros la poseen, aunque en grado
mínimo; pueden recordar a la tarde hechos que ocurrieron en la mañana o aun
la tarde anterior. Gozan también de la facultad de la previsión;
declaran con tranquila certidumbre lo que sucederá dentro de diez o quince
minutos. Indican, por ejemplo: Una mosca me rozará la nuca o No
tardaremos en oír el grito de un pájaro. Centenares de veces he atestiguado este
curioso don. Mucho he vacilado sobre él. Sabemos que el pasado, el
presente y el porvenir ya están, minucia por minucia, en la profética
memoria de Dios, en Su eternidad; lo extraño es que los hombres puedan
mirar, indefinidamente, hacia atrás pero no hacia adelante. Si recuerdo con
toda nitidez aquel velero de alto bordo que vino de Noruega cuando yo
contaba apenas cuatro años ¿a qué sorprenderme del hecho de que alguien
sea capaz de prever lo que está a punto de ocurrir? Filosóficament
e, la memoria no es menos prodigiosa que la adivinación del futuro; el
día de mañana está más cerca de nosotros que la travesía del Mar Rojo
por los hebreos, que, sin embargo, recordamos. A la tribu le está
vedado fijar los ojos en las estrellas, privilegio reservado a los
hechiceros. Cada hechicero tiene un discípulo, a quien instruye desde niño en
las disciplinas secretas y que lo sucede a su muerte. Así siempre son
cuatro, número de carácter mágico, ya que es el último a que alcanza la
mente de los hombres. Profesan, a su modo, la doctrina del infierno y del
cielo. Ambos son subterráneos. En el infierno, que es claro y seco,
morarán los enfermos, los ancianos, los maltratados, los hombres-monos,
los árabes y los leopardos; en el cielo, que se figuran pantanoso y
oscuro, el rey, la reina, los hechiceros, los que en la tierra han sido
felices, duros y sanguinarios. Veneran asimismo a un dios, cuyo nombre es
Estiércol, y que posiblemente han ideado a imagen y semejanza del r
ey; es un ser mutilado, ciego, raquítico y de ilimitado poder. Suele
asumir la forma de una hormiga o de una culebra.
 
A nadie le asombrará, después de lo dicho, que durante el espacio de mi
estadía no lograra la conversión de un solo Yahoo. La frase Padre
nuestro los perturbaba, ya que carecen del concepto de la paternidad. No
comprenden que un acto ejecutado hace nueve meses pueda guardar alguna
relación con el nacimiento de un niño; no admiten una causa tan lejana y
tan inverosímil. Por lo demás, todas las mujeres conocen el comercio
carnal y no todas son madres.
 
El idioma es complejo. No se asemeja a ningún otro de los que yo tenga
noticia. No podemos hablar de partes de la oración, ya que no hay
oraciones. Cada palabra monosílaba corresponde a una idea general, que se
define por el contexto o por los visajes. La palabra nrz, por ejemplo,
sugiere la dispersión o las manchas; puede significar el cielo
estrellado, un leopardo, una bandada de aves, la viruela, lo salpicado, el acto
de desparramar o la fuga que sigue a la derrota. Hrl, en cambio, indica
lo apretado o lo denso; puede significar la tribu, un tronco, una
piedra, un montón de piedras, el hecho de apilarlas, el congreso de los
cuatro hechiceros, la unión carnal y un bosque. Pronunciada de otra manera
o con otros visajes, cada palabra puede tener un sentido contrario. No
nos maravillemos con exceso; en nuestra lengua, el verbo to cleave vale
por hendir y adherir. Por supuesto, no hay oraciones, ni siquiera
frases truncas.
 
La virtud intelectual de abstraer que semejante idioma postula, me
sugiere que los Yahoos, pese a su barbarie, no son una nación primitiva
sino degenerada. Confirman esta conjetura las inscripciones que he
descubierto en la cumbre de la meseta y cuyos caracteres, que se asemejan a
las runas que nuestros mayores grababan, ya no se dejan descifrar por la
tribu. Es como si ésta hubiera olvidado el lenguaje escrito y sólo le
quedara el oral.
 
Las diversiones de la gente son las riñas de gatos adiestrados y las
ejecuciones. Alguien es acusado de atentar contra el pudor de la reina o
de haber comido a la vista de otro; no hay declaración de testigos ni
confesión y el rey dicta su fallo condenatorio. El sentenciado sufre
tormentos que trato de no recordar y después lo lapidan. La reina tiene el
derecho de arrojar la primera piedra y la última, que suele ser
inútil. El gentío pondera su destreza y la hermosura de sus partes y la
aclama con frenesí, arrojándole rosas y cosas fétidas. La reina, sin una
palabra, sonríe. Otra costumbre de la tribu son los poetas. A un hombre se
le ocurre ordenar seis o siete palabras, por lo general enigmáticas.
No puede contenerse y las dice a gritos, de pie, en el centro de un
círculo que forman, tendidos en la tierra, los hechiceros y la plebe. Si el
poema no excita, no pasa nada; si las palabras del poeta los
sobrecogen, todos se apartan de él, en silencio, bajo el mandato de un horro
r sagrado (under a holy dread). Sienten que lo ha tocado el espíritu;
nadie hablará con él ni lo mirará, ni siquiera su madre. Ya no es un
hombre sino un dios y cualquiera puede matarlo. El poeta, si puede, busca
refugio en los arenales del Norte.
 
He referido ya cómo arribé a la tierra de los Yahoos. El lector
recordará que me cercaron, que tiré al aire un tiro de fusil y que tomaron la
descarga por una suerte de trueno mágico. Para alimentar ese error,
procuré andar siempre sin armas. Una mañana de primavera, al rayar el día,
nos invadieron bruscamente los hombres-monos; bajé corriendo de la
cumbre arma en mano, y maté a dos de esos animales. Los demás huyeron,
atónitos. Las balas, ya se sabe, son invisibles. Por primera vez en mi
vida, oí que me aclamaban. Fue entonces, creo, que la reina me recibió. La
memoria de los Yahoos es precaria; esa misma tarde me fui. Mis
aventuras en la selva no importan. Di al fin con una población de hombres
negros, que sabían arar, sembrar y rezar y con los que me entendí en
portugués. Un misionero romanista, el Padre Fernandes, me hospedó en su
cabaña y me cuidó hasta que pude reanudar mi penoso viaje. Al principio me
causaba algún asco verlo abrir la boca sin disimulo y echar adentro
piezas de comida. Yo me tapaba con la mano o desviaba los ojos; a los
pocos días me acostumbré. Recuerdo con agrado nuestros debates en
materia teológica. No logré que volviera a la genuina fe de Jesús.
 
Escribo ahora en Glasgow. He referido mi estadía entre los Yahoos, pero
no su horror esencial, que nunca me deja del todo y que me visita en
los sueños. En la calle creo que me cercan aún. Los Yahoos, bien lo sé,
son un pueblo bárbaro, quizás el más bárbaro del orbe, pero sería una
injusticia olvidar ciertos rasgos que los redimen. Tienen instituciones,
gozan de un rey, manejan un lenguaje basado en conceptos genéricos,
creen, como los hebreos y los griegos, en la raíz divina de la poesía y
adivinan que el alma sobrevive a la muerte del cuerpo. Afirman la verdad
de los castigos y de las recompensas. Representan, en suma, la
cultura, como la representamos nosotros, pese a nuestros muchos pecados. No me
arrepiento de haber combatido en sus filas, contra los hombres-monos.
Tenemos el deber de salvarlos: Espero que el Gobierno de Su Majestad no
desoiga lo que se atreve a sugerir este informe."
 
FIN
 
 
 
1. Doy a la ch el valor que tiene la palabra loch. (Nota del Autor).
 
in El Informe de Brodie - publicado em 1970

Talvez num tempo da delicadeza

Talvez num tempo da delicadeza

Je vise au coeur, ensuite je pleure...



Ne me quitte pas
Il faut oublier
Tout peut s'oublier
Qui s'enfuit déjà
Oublier le temps
Des malentendus
Et le temps perdu
A savoir comment
Oublier ces heures
Qui tuaient parfois
A coups de pourquoi
Le coeur du bonheur
Ne me quitte pas

Moi je t'offrirai
Des perles de pluie
Venues de pays
Où il ne pleut pas
Je creuserai la terre
Jusqu'après ma mort
Pour couvrir ton corps
D'or et de lumière
Je ferai un domaine
Où l'amour sera roi
Où l'amour sera loi
Où tu seras reine
Ne me quitte pas

Ne me quitte pas
Je t'inventerai
Des mots insensés
Que tu comprendras
Je te parlerai
De ces amants là
Qui ont vu deux fois
Leurs coeurs s'embraser
Je te raconterai
L'histoire de ce roi
Mort de n'avoir pas
Pu te rencontrer
Ne me quitte pas

On a vu souvent
Rejaillir le feu
D'un ancien volcan
Qu'on croyait trop vieux
Il est paraît-il
Des terres brûlées
Donnant plus de blé
Qu'un meilleur avril
Et quand vient le soir
Pour qu'un ciel flamboie
Le rouge et le noir
Ne s'épousent-ils pas
Ne me quitte pas

Ne me quitte pas
Je ne vais plus pleurer
Je ne vais plus parler
Je me cacherai là
A te regarder
Danser et sourire
Et à t'écouter
Chanter et puis rire
Laisse-moi devenir
L'ombre de ton ombre
L'ombre de ta main
L'ombre de ton chien
Ne me quitte pas



Maysa canta Jacques Brel
NE ME QUITTE PAS
1959


Tradução

para um dia de chuva em novembro

do Almanak das notabilidades de Laemmert, 1876

FIRST LOVE

A FILM BY FELIPE HELLMEISTER BASED ON A SHORT STORY BY SAMUEL BECKETT


BECKETT SAYS:
"She began stroking my ankles. I considered kicking her in the cunt. You speak to people about stretching out and they immediately see a body at full length. What mattered to me in my dispeopled kingdom, that in regard to which the disposition of my carcass was there merest and most futile of accidents, was supineness in the mind, the dulling of the self and of that residue of execrable frippery known as the non-self and even the world, for short. But man is still today, at the age of twenty-five, at the mercy of an erection, physically too, from time to time, it's the common lot, even I was not immune, if that may be called an erection. It did not escape her naturally, women smell a rigid phallus ten miles away and wonder, How on earth did he spot me from there? One is no longer oneself, on such occasions, and it is painful to be no longer oneself, even more painful if possible than when one is. For when one is one knows what to do to be less so, whereas when one is not one is any old one irredeemably. What goes by the name of love is banishment, with now and then a postcard from the homeland, such is my considered opinion, this evening."


MR Hellmeister SAYS:


I SAY: THANKS
Firulas do tempo e as perguntas do dia...

Será que Carlos Gomes comprava aqui?


Será que Machado de Assis usava as tintas do Monteiro??



do Guia das Notabilidades do Almanak Laemmert, 1877

Vou-me embora pra Pasárgada - vídeo e verso



Vídeo que fiz para ter Manuel sempre perto... Um dia, vou mesmo...

Vou-me Embora pra Pasárgada
Manuel Bandeira

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!

E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar

Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.

Fonte: "Bandeira a Vida Inteira", Ed. Alumbramento, Rio de Janeiro, 1986, p. 90

Vem, Fulana! ou O MITO de Drummond


o vídeo fui eu quem fiz, as imagens são dos mitos meus...

O MITO
Carlos Drummond de Andrade

Sequer conheço Fulana,
vejo Fulana tão curto,
Fulana jamais me vê,
mas como eu amo Fulana.

Amarei mesmo Fulana?
ou é ilusão de sexo?
Talvez a linha do busto,
da perna, talvez do ombro.

Amo Fulana tão forte,
amo Fulana tão dor,
que todo me despedaço
e choro, menino, choro.

Mas Fulana vai se rindo...
Vejam Fulana dançando.
No esporte, ela está sozinha.
No bar, quão acompanhada.

E Fulana diz mistérios,
diz marxismo, rimmel, gás.
Fulana me bombardeia,
no entanto sequer me vê.

E sequer nos compreendemos.
É dama de alta fidúcia,
tem latifúndios, iates,
sustenta cinco mil pobres.

Menos eu... que de orgulhoso
me basto pensando nela.
Pensando com unha, plasma,
fúria, gilete, desânimo.

Amor tão disparatado.
Desbaratado é que é...
Nunca a sentei no meu colo
nem vi pela fechadura.

Mas eu sei quanto me custa
manter esse gelo digno,
essa indiferença gaia
e não gritar: Vem, Fulana!

Como deixar de invadir
sua casa de mil fechos
e sua veste arrancando
mostrá-la depois ao povo

tal como é ou deve ser:
branca, intacta, neutra, rara,
feita de pedra translúcida,
de ausência e ruivos ornatos.

Mas como será Fulana,
digamos, no seu banheiro?
Só de pensar em seu corpo
o meu se punge... Pois sim.

Porque preciso do corpo
para mendigar Fulana,
rogar-lhe que pise em mim,
que me maltrate... Assim não.

Mas Fulana será gente?
Estará somente em ópera?
Será figura de livro?
Será bicho? Saberei?

Não saberei? Só pegando,
pedindo: Dona, desculpe...
O seu vestido esconde algo?
tem coxas reais? Cintura?

Fulana às vezes existe
demais; até me apavora.
Vou sozinho pela rua,
eis que Fulana me roça.

Olho: não tem mais Fulana.
Povo se rindo de mim.
(Na curva do seu sapato
o calcanhar rosa e puro.)

E eu insonte, pervagando
em ruas de peixe e lágrima.
Aos operários: a vistes?
Não, dizem os operários.

Aos boiadeiros: a vistes?
Dizem não os boiadeiros.
Acaso a vistes, doutores?
Mas eles respondem: Não

Pois é possível? Pergunto
aos jornais: todos calados.
Não sabemos se Fulana
passou. De nada sabemos.

E são onze horas da noite,
são onze rodas de chope,
onze vezes dei a volta
de minha sede; e Fulana

talvez dance no cassino
ou, e será mais provável,
talvez beije no Leblon,
talvez se banhe na Cólquida;

talvez se pinte no espelho
do táxi; talvez aplauda
certa peça miserável
num teatro barroco e louco;

talvez cruze a perna e beba,
talvez corte figurinhas,
talvez fume de piteira,
talvez ria, talvez minta.

Esse insuportável riso
de Fulana de mil dentes
(anúncio de dentifrício)
é faca me escavacando.

Me ponho a correr na praia.
Venha o mar! Venham cações!
Que o farol me denuncie!
Que a fortaleza me ataque!

Quero morrer sufocado,
quero das mortes a hedionda,
quero voltar repelido
pela salsugem do largo,

já sem cabeça e sem perna,
à porta do apartamento,
para feder: de propósito,
somente para Fulana.

E Fulana apelará
para os frascos de perfume.
Abre-os todos: mas de todos
eu salto, e ofendo, e sujo.

E Fulana correrá
(nem se cobriu; vai chispando)
talvez se atire lá do alto.
Seu grito é: socorro! e deus.

Mas não quero nada disso.
Para que chatear Fulana?
Pancada na sua nuca
na minha é que vai doer.

E daí? Não sou criança.
Fulana estuda meu rosto.
Coitado: de raça branca.
Tadinho: tinha gravata.

Já morto, me quererá?
Esconjuro se é necrófila...
Fulana é vida, ama as flores,
as artérias, as debêntures.

Sei que jamais me perdoara
matar-me para servi-la.
Fulana quer homens fortes,
couraçados, invasores.

Fulana é toda dinâmica,
tem um motor na barriga.
Suas unhas são elétricas,
seus beijos refrigerados,

desinfetados, gravados
em máquina multilite.
Fulana, como é sadia!
Os enfermos somos nós.

Sou eu, o poeta precário
que fez de Fulana um mito,
nutrindo-me de Petrarca,
Ronsard, Camões e Capim;

Que a sei embebida em leite,
carne, tomate, ginástica,
e lhe colo metafísicas,
enigmas, causas primeiras.

Mas, se tentasse construir
outra Fulana que não
essa de burguês sorriso
e de tão burro esplendor?

Mudo-lhe o nome; recorto-lhe
um traje de transparência;
já perde a carência humana;
e bato-a; de tirar sangue.

E lhe dou todas as faces
de meu sonho que especula;
e abolimos a cidade
já sem peso e nitidez.

E vadeamos a ciência,
mar de hipóteses. A lua
fica sendo nosso esquema
de um território mais justo.

E colocamos os dados
de um mundo sem classes e imposto;
e nesse mundo instalamos
os nossos irmãos vingados.

E nessa fase gloriosa,
de contradições extintas,
eu e Fulana, abrasados,
queremos... que mais queremos?

E digo a Fulana: Amiga,
afinal nos compreendemos.
Já não sofro, já não brilhas,
mas somos a mesma coisa.

(Uma coisa tão diversa
da que pensava que fôssemos.)

Corações nunca serão práticos até que sejam inquebráveis

"Coração? Pra que um coração? Corações nunca serão práticos até que sejam inquebráveis... "

O Mágico de Oz, que não tinha nada de mágico, para o Homem de Lata que buscava um coração mas já tinha um, e não sabia.. . (DO FILME O Mágico de Oz)

imagem: arte de Renato Perazzolo

L'oiseau que tu croyais surprendre battit de l'aile et s'envola?

Esse é um trecho de "Carmen", filme mudo de 1915 dirigido por Cecil B. DeMille. A voz e a imagem é de Geraldine Farrar que dá a vida a essa Carmen de Bizet e de Mille.






L'amour est un oiseau rebelle
Que nul ne peut apprivoiser,
Et c'est bien en vain qu'on l'appelle,
S'il lui convient de refuser.
Rien n'y fait, menace ou prière,
L'un parle bien, l'autre se tait;
Et c'est l'autre que je préfère:
Il n'a rien dit, mais il me plaît.

L'amour est enfant de bohème,
Il n'a jamais connu de loi:
Si tu ne m'aimes pas, je t'aime;
Si je t'aime, prends garde à toi!

L'oiseau que tu croyais surprendre
Battit de l'aile et s'envola ?
L'amour est loin, tu peux l'attendre;
Tu ne l'attends plus, il est là!



Sotaque vem do nheengatu, a língua brasileira


Valdir Sanches, Lagoinha (SP)

Estado de São Paulo, 21 de abril de 2008

Caipira é aquele que fala o dialeto caipira. É português, mas com palavras tupi e sotaque da língua brasileira. A língua brasileira é o nheengatu, que existiu no Brasil até ser proibida por Portugal, no século 18. Seu nome parece coisa de índio, e é. O nheengatu incorpora a fala dos índios tupi, que ocupavam o litoral brasileiro. Na verdade, até hoje, quem se refere ao Ibirapuera, fica jururu, come abacaxi ou se pendura num cipó está se expressando nessa língua.

Há algum tempo, quando o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso usou a expressão "chega de nhémnhémnhém", estava falando puro nheengatu. No Brasil Colônia, era falada fluentemente em uma grande área do País, que ia de Santa Catarina ao Pará. A elite também se expressava por meio dela, embora não em todos os setores. Durante os processos, o juiz dispunha de um intérprete.

"Tivemos uma língua brasileira até o século 18", diz o professor José de Souza Martins, do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia da USP. "Só os portugueses, que eram estrangeiros, falavam português."

A língua foi criada no século 16 pelos jesuítas, destacando-se o Padre Anchieta. O fundador de São Paulo era lingüista. Para se entender com os nativos, classificou o tupi e criou uma gramática da língua geral. Ou seja, o nheengatu. "Uma língua de travessia, não é português, nem índio, eram ambas", diz Martins. O português, nesse caso, era o que hoje chamamos arcaico. Convidava-se uma dona para uma função, em vez de uma senhora para um baile. E dizia-se coisas como agardece (agradece), alevantá e inorância.

Os índios tinham dificuldade em falar palavras portuguesas como os verbos no infinitivo. E também palavras com consoantes dobradas (rr) ou terminadas em consoante. Além disso, colocavam vogal entre consoantes. Mulher, colher e orelha viraram muié, cuié e oreia. De sua dificuldade com o "erre", vem o "pooorta", reflexivo, com a língua tocando o céu da boca. Martins esclarece que "o dialeto caipira não é um erro, é uma língua dialetal". Mais do que isso: "É uma invenção lingüística musical e social."

Os brasileiros viviam muito bem com ela, até que, no reinado de d. José I (1750 a 1771), Portugal a proibiu. O veto veio em um decreto do primeiro-ministro, o Marquês de Pombal. Bania o ensino do nheengatu das escolas. A decisão foi acatada nas salas de aula, mas o povo continuou falando no dialeto caipira. O tempo acabou por impor o português, mas o dialeto puro resiste.

Ainda é falado em alguns pontos da fronteira com o Paraguai. E, em São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, a 860 quilômetros de Manaus, uma lei de 2002 tornou o nheengatu língua co-oficial do município. Na contramão do decreto do marquês, determina que seja incentivado seu ensino nas escolas, e o uso nos meios de comunicação (o tucano e o baniva também se tornaram línguas co-oficiais).

E ficou o "caipirês" da roça. Por essas bandas, ensina Martins, a língua se multiplica. "Quando o novo aparece, o caipira inventa, a partir da matriz da palavra, algo que tem sentido para ele." Há certo tempo, Martins e um grupo de estudantes apresentaram questões a algumas pessoas. Perguntaram a um homem: "Você concorda ou não concorda?" O homem não entendeu. A pergunta foi sendo repetida, sem sucesso, até que um dos estudantes mudou a forma: "Você concorda ou disconcorda?" Deu certo.


Uma aula de literatura

Anotações em um caderno perdido da aula de literatura da profa Cinda Gonda em 03 de julho de 1996:

- a paixão é extremamente solitária e individual

- o centro da vida não é o centro do amor

- a paixão não encontra mediação

- paixão = loucura # amor

- a ausência do outro é não vida

- Na literatura: toda paixão tem final infeliz, Tristão e Isolda, Romeu e Julieta, Abelardo e Heloisa, Simão e Teresa ( de Amor e Perdição) etc

(muitos eteceteras)

 

Cantares do sem nome e de partida - Hilda Hilst e Loretta Lux


Ó tirânico Amor, ó caso vário
Que obrigas um querer que sempre seja
De si contínuo e áspero adversário...
Luiz Vaz de Camões
Cubram-lhe o rosto, meus olhos ofuscam-se;
ela morreu jovem.
John Webster

I
Que este amor não me cegue nem me siga.
E de mim mesma nunca se aperceba.
Que me exclua do estar sendo perseguida
E do tormento
De só por ele me saber estar sendo.
Que o olhar não se perca nas tulipas
Pois formas tão perfeitas de beleza
Vêm do fulgor das trevas.
E o meu Senhor habita o rutilante escuro
De um suposto de heras em alto muro.
Que este amor me faça descontente
E farta de fadigas. E de fragilidades tantas
Eu me faça pequena. E diminuta e tenra
Como só soem ser aranhas e formigas.
Que este amor só me veja de partida.



II
E só me veja
No não merecimento das conquistas.
De pé. Nas plataformas, nas escadas
Ou através de umas janelas baças:
Uma mulher no trem: perfil desabitado de carícias
E só me veja no não merecimento e interdita:
Papéis, valises, tomos, sobretudos
Eu-alguém travestida de luto. (E um olhar
de púrpura e desgosto, vendo através de mim
navios e dorsos).
Dorsos de luz de águas mais profundas. Peixes.
Mas sobre mim, intensas, ilhargas juvenis
Machucadas de gozo.
E que jamais perceba o rocio da chama:
Este molhado fulgor sobre o meu rosto.



III
Isso de mim que anseia despedida
(Para perpetuar o que está sendo)
Não tem nome de amor. Nem é celeste
Ou terreno. Isso de mim é marulhoso
E tenro. Dançarino também. Isso de mim
É novo: Como que come o que nada contém.
A impossível oquidão de um ovo.
Como se um tigre
Reversivo,
Veemente de seu avesso
Cantasse mansamente.
Não tem nome de amor. Nem se parece a mim.
Como pode ser isso? Ser tenro, marulhoso
Dançarino e novo, ter nome de ninguém
E preferir ausência e desconforto
Para guardar no eterno o coração do outro.




IV
E por que, também não doloso e penitente?
Dolo pode ser punhal. E astúcia, logro.
E isso sem nome, o despedir-se sempre
Tem muito de sedução, armadilhas, minúcias
Isso sem nome fere e faz feridas.
Penitente e algoz:
Como se só na morte abraçasses a vida.
É pomposo e pungente. Com ares de santidade
Odores de cortesã, pode ser carmelita
ou Catarina, ser menina ou malsã.
Penitente e doloso
Pode ser o sumo de um instante.
Pode ser tu-outro pretendido, teu adeus, tua sorte.
Fêmea-rapaz, ISSO sem nome pode ser um todo
Que só se ajusta ao Nunca. Ao Nunca Mais.




V
O Nunca Mais não é verdade.
Há ilusões e assomos, há repentes
De perpetuar a Duração.
O Nunca Mais é só meia-verdade:
Como se visses a ave entre a folhagem
E ao mesmo tempo não.
(E antevisses
Contentamento e morte na paisagem).
O Nunca Mais é de planície e fendas.
É de abismos e arroios.
É de perpetuidade no que pensas efêmero
E breve e pequenino
No que sentes eterno.
Nem é corvo ou poema o Nunca Mais.




VI
Tem nome veemente. O Nunca mais tem fome.
De formosura, desgosto, ri
E chora. Um tigre passeia o Nunca Mais
Sobre as paredes do gozo. Um tigre te persegue.
E perseguido és novo, devastado e outro.
Pensas comicidade no que é breve: paixão?
Há de se diluir. Molhaduras, lençóis
E de fartar-se,
O nojo. Mas não. Atado à tua própria envoltura
Manchado de quimeras, passeias teu costado.
O Nunca Mais é a fera.



VII
Rios de rumor: meu peito te dizendo adeus.
Aldeia é o que sou. Aldeã de conceitos
Porque me fiz tanto de ressentimentos
Que o melhor é partir. E te mandar escritos.
Rios de rumor no peito: que te viram subir
A colina de alfafas, sem éguas e sem cabras
Mas com a mulher, aquela,
Que sempre diante dela me soube tão pequena.
Sabenças? Esqueci-as. Livros? Perdi-os.
Perdi-me tanto em ti
Que quando estou contigo não sou vista
E quando estás comigo vêem aquela.




VIII
Aquela que não te pertence por mais queira
(Porque ser pertencente
É entregar a alma a uma Cara, a de áspide
Escura e clara, negra e transparente), Ai!
Saber-se pertencente é ter mais nada.
É ter tudo também.
É como ter o rio, aquele que deságua
Nas infinitas águas de um sem-fim de ninguéns.
Aquela que não te pertence não tem corpo.
Porque corpo é um conceito suposto de matéria
E finito. E aquela é luz. E etérea.
Pertencente é não ter rosto. É ser amante
De um Outro que nem nome tem. Não é Deus nem Satã.
Não tem ilharga ou osso. Fende sem ofender.
É vida e ferida ao mesmo tempo, "Esse"
Que bem me sabe inteira pertencida.




IX
Ilharga, osso, algumas vezes é tudo o que se tem.
Pensas de carne a ilha, e majestoso o osso.
E pensas maravilha quando pensas anca
Quando pensas virilha pensas gozo.
Mas tudo mais falece quando pensas tardança
E te despedes.
E quando pensas breve
Teu balbucio trêmulo, teu texto-desengano
Que te espia, e espia o pouco tempo te rondando a ilha.
E quando pensas VIDA QUE ESMORECE. E retomas
Luta, ascese, e as mós vão triturando
Tua esmaltada garganta... Mesmo assim mesmo
Canta! Ainda que se desfaçam ilhargas, trilhas...
Canta o começo e o fim. Como se fosse verdade
A esperança.




X
Como se fosse verdade encantações, poemas
Como se Aquele ouvisse arrebatado
Teus cantares de louca, as cantigas da pena.
Como se a cada noite de ti se despedisse
Com colibris na boca.
E candeias e frutos, como se fosses amante
E estivesses de luto, e Ele, o Pai
Te fizesse porisso adormecer...
(Como se se apiedasse porque humana
És apenas poeira,
E Ele o grande Tecelão da tua morte: a teia).
Como se fosse vão te amar e por isso perfeito.
Amar o perecível, o nada, o pó, é sempre despedir-se.
E não é Ele, o Fazedor, o Artífice, o Cego
O Seguidor disso sem nome? ISSO...
O amor e sua fome.









imagens Loretta Lux

y tú , que has hecho de mi pobre flor?



En el tronco de un árbol una niña grabó su nombre enchida de placer. Y el árbol conmovido allá en su seno, a la niña una flor dejó caer.Yo soy el árbol conmovido y triste, tu eres la niña que mi tronco hirió. Yo guardo siempre tu querido nombre, y tú , que has hecho de mi pobre flor?

(Y tu que has hecho? de Eusebio Delfín, por Buena Vista Social Club)

Giacomo Leopardi - Canto notturno di un pastore errante dell'Asia

Che fai tu, luna, in ciel? dimmi, che fai,
Silenziosa luna?
Sorgi la sera, e vai,
Contemplando i deserti; indi ti posi.
Ancor non sei tu paga
Di riandare i sempiterni calli?
Ancor non prendi a schivo, ancor sei vaga
Di mirar queste valli?
Somiglia alla tua vita
La vita del pastore.
Sorge in sul primo albore
Move la greggia oltre pel campo, e vede
Greggi, fontane ed erbe;
Poi stanco si riposa in su la sera:
Altro mai non ispera.
Dimmi, o luna: a che vale
Al pastor la sua vita,
La vostra vita a voi? dimmi: ove tende
Questo vagar mio breve,
Il tuo corso immortale?
 
Vecchierel bianco, infermo,
Mezzo vestito e scalzo,
Con gravissimo fascio in su le spalle,
Per montagna e per valle,
Per sassi acuti, ed alta rena, e fratte,
Al vento, alla tempesta, e quando avvampa
L'ora, e quando poi gela,
Corre via, corre, anela,
Varca torrenti e stagni,
Cade, risorge, e più e più s'affretta,
Senza posa o ristoro,
Lacero, sanguinoso; infin ch'arriva
Colà dove la via
E dove il tanto affaticar fu volto:
Abisso orrido, immenso,
Ov'ei precipitando, il tutto obblia.
Vergine luna, tale
E' la vita mortale.
 
Nasce l'uomo a fatica,
Ed è rischio di morte il nascimento.
Prova pena e tormento
Per prima cosa; e in sul principio stesso
La madre e il genitore
Il prende a consolar dell'esser nato.
Poi che crescendo viene,
L'uno e l'altro il sostiene, e via pur sempre
Con atti e con parole
Studiasi fargli core,
E consolarlo dell'umano stato:
Altro ufficio più grato
Non si fa da parenti alla lor prole.
Ma perchè dare al sole,
Perchè reggere in vita
Chi poi di quella consolar convenga?
Se la vita è sventura,
Perchè da noi si dura?
Intatta luna, tale
E' lo stato mortale.
Ma tu mortal non sei,
E forse del mio dir poco ti cale.
 
Pur tu, solinga, eterna peregrina,
Che sì pensosa sei, tu forse intendi,
Questo viver terreno,
Il patir nostro, il sospirar, che sia;
Che sia questo morir, questo supremo
Scolorar del sembiante,
E perir dalla terra, e venir meno
Ad ogni usata, amante compagnia.
E tu certo comprendi
Il perchè delle cose, e vedi il frutto
Del mattin, della sera,
Del tacito, infinito andar del tempo.
Tu sai, tu certo, a qual suo dolce amore
Rida la primavera,
A chi giovi l'ardore, e che procacci
Il verno co' suoi ghiacci.
Mille cose sai tu, mille discopri,
Che son celate al semplice pastore.
Spesso quand'io ti miro
Star così muta in sul deserto piano,
Che, in suo giro lontano, al ciel confina;
Ovver con la mia greggia
Seguirmi viaggiando a mano a mano;
E quando miro in cielo arder le stelle;
Dico fra me pensando:
A che tante facelle?
Che fa l'aria infinita, e quel profondo
Infinito Seren? che vuol dir questa
Solitudine immensa? ed io che sono?
Così meco ragiono: e della stanza
Smisurata e superba,
E dell'innumerabile famiglia;
Poi di tanto adoprar, di tanti moti
D'ogni celeste, ogni terrena cosa,
Girando senza posa,
Per tornar sempre là donde son mosse;
Uso alcuno, alcun frutto
Indovinar non so. Ma tu per certo,
Giovinetta immortal, conosci il tutto.
Questo io conosco e sento,
Che degli eterni giri,
Che dell'esser mio frale,
Qualche bene o contento
Avrà fors'altri; a me la vita è male.
 
O greggia mia che posi, oh te beata,
Che la miseria tua, credo, non sai!
Quanta invidia ti porto!
Non sol perchè d'affanno
Quasi libera vai;
Ch'ogni stento, ogni danno,
Ogni estremo timor subito scordi;
Ma più perchè giammai tedio non provi.
Quando tu siedi all'ombra, sovra l'erbe,
Tu se' queta e contenta;
E gran parte dell'anno
Senza noia consumi in quello stato.
Ed io pur seggo sovra l'erbe, all'ombra,
E un fastidio m'ingombra
La mente, ed uno spron quasi mi punge
Sì che, sedendo, più che mai son lunge
Da trovar pace o loco.
E pur nulla non bramo,
E non ho fino a qui cagion di pianto.
Quel che tu goda o quanto,
Non so già dir; ma fortunata sei.
Ed io godo ancor poco,
O greggia mia, nè di ciò sol mi lagno.
Se tu parlar sapessi, io chiederei:
Dimmi: perchè giacendo
A bell'agio, ozioso,
S'appaga ogni animale;
Me, s'io giaccio in riposo, il tedio assale?
 
Forse s'avess'io l'ale
Da volar su le nubi,
E noverar le stelle ad una ad una,
O come il tuono errar di giogo in giogo,
Più felice sarei, dolce mia greggia,
Più felice sarei, candida luna.
O forse erra dal vero,
Mirando all'altrui sorte, il mio pensiero:
Forse in qual forma, in quale
Stato che sia, dentro covile o cuna,
E' funesto a chi nasce il dì natale.
 
imagem Van Gogh

Destino segundo Salvador Dali e Walt Disney

El oro de los tigres



Es el amor. Tendré que ocultarme o que huir.

Crecen los muros de su cárcel, como en un sueño atroz. La hermosa
máscara ha cambiado, pero como siempre es la única. De que me servirán
mis talismanes: el ejercicio de las letras, la vaga erudición, el
aprendizaje de las palabras que uso, el áspero Norte para cantar sus
mares y sus espadas, la serena amistad, las galerías de la Biblioteca,
las cosas comunes, los hábitos, el joven amor de mi madre, la sombra
militar de mis muertos, la noche intemporal, el sabor del sueño?

Estar contigo o no estar contigo es la medida de mi tiempo.

Ya el cántaro se quiebra sobre la fuente, ya el hombre se levanta
a la voz del ave, ya se han oscurecido los que miran por las ventanas,
pero la sombra no ha traído la paz.

Es, ya lo se, el amor: la ansiedad y el alivio de oír tu voz, la
espera y la memoria, el horror de vivir en lo sucesivo.

Es el amor con sus mitologías, con sus pequeñas magias inútiles.

Hay una esquina por la que no me atrevo a pasar.

Ya los ejércitos me cercan, las hordas.
(Esta habitación es irreal; ella no la ha visto.)

El nombre de una mujer me delata.

Me duele una mujer en todo el cuerpo.


JORGE LUIS BORGES, El amenazado, do livro "El oro de los tigres",
1972

O LAMENTO DE PAMINA

No one dreams that love can dwindle when there seems no trace of doubt. Once it wanes, you can't rekindle flames of ardour dying out. All so sudden, unexpected, passion dies when love has fled. Worse than death is love rejected, like dampened flames, my soul is dead.

Die Zauberflöte - Mozart

Oui,oui, Jeanne... dans le tourbillon de la vie, je sais, je sais...hàie!


Elle avait des bagues à chaque doigt,

Des tas de bracelets autour des poignets,
Et puis elle chantait avec une voix
Qui, sitôt, m'enjôla.
Elle avait des yeux, des yeux d'opale,
Qui me fascinaient, qui me fascinaient.
Y avait l'ovale de son visage pâle
De femme fatale qui m'fut fatale {2x}.
On s'est connus, on s'est reconnus,
On s'est perdus de vue, on s'est r'perdus d'vue
On s'est retrouvés, on s'est réchauffés,
Puis on s'est séparés.
Chacun pour soi est reparti.
Dans l'tourbillon de la vie
Je l'ai revue un soir, hàie, hàie, hàie
Ça fait déjà un fameux bail {2x}.
Au son des banjos je l'ai reconnue.
Ce curieux sourire qui m'avait tant plu.
Sa voix si fatale, son beau visage pâle
M'émurent plus que jamais.
Je me suis soûlé en l'écoutant.
L'alcool fait oublier le temps.
Je me suis réveillé en sentant
Des baisers sur mon front brûlant {2x}.
On s'est connus, on s'est reconnus,
On s'est perdus de vue, on s'est r'perdus d'vue
On s'est retrouvés, on s'est réchauffés,
Puis on s'est séparés.
Chacun pour soi est reparti.
Dans l'tourbillon de la vie
Je l'ai revue un soir, hàie, hàie, hàie
Elle est retombée dans mes bras.
Quand on s'est connus,
Quand on s'est reconnus,
Pourquoi se perdre de vue,
Se reperdre de vue ?
Quand on s'est retrouvés,
Quand on s'est réchauffés,
Pourquoi se séparer ?
Alors tous deux on est repartis
Dans le tourbillon de la vie
On à continué à tourner
Tous les deux enlacés
Tous les deux enlacés.

Jeanne Moreau-Le Tourbillon de la vie ( Jules et Jim, par François Truffaut)

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Lucas Cranach the Elder and Studio, The Ill-Matched Lovers, app. 1530

JOAO CABRAL DE MELO NETO - Morte e vida severina

"...E não há melhor resposta
que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio,
que também se chama vida,
ver a fábrica que ela mesma,
teimosamente, se fabrica,
vê-la brotar como há pouco
em nova vida explodida;
mesmo quando é assim pequena
a explosão, como a ocorrida;
mesmo quando é uma explosão
como a de há pouco, franzina;
mesmo quando é a explosão
de uma vida severina."

Susan Sontag Finds Romance

To me, literature is a calling, even a kind of salvation. It connects me with an enterprise that is over 2,000 years old. What do we have from the past? Art and thought. That's what lasts. That's what continues to feed people and give them an idea of something better...A better state of one's feelings or simply the idea of a silence in one's self that allows one to think or to feel. Which to me is the same.

Susan Sontag Finds Romance," interview by Leslie Garis, The New York Times , 02 agosto 1982
Procurar, já não digo "conseguir", mas procurar sempre, dar ao transitório a densidade do eterno.
Mário Peixoto, 4 de janeiro de 1956



Insist on yourself, never imitate. Every great man is unique
Emerson



Eu amo a boca e o corpo, enxutos, curvos para mim, porque dentro deles, na pertubação, estão intactos o pingo e o oceano.
Mário Peixoto, Dentro do amor há um amor



Suspendamos a pena e vamos à janela espairecer a memória.
Machado de Assis, "Dom Casmurro"

William James, Principles of Psychology

We must immediately insist that aesthetic emotion, pure and simple, the pleasure given us by certain lines and masses, and combinations of colors and sounds, is an absolutely sensational experience, an optical or auricular feeling that is primary, and not due to the repercussion backwards of other sensations elsewhere consecutively aroused. To this simple primary and immediate pleasure in certain pure sensations and harmonious combinations of them, there may, it is true, be added secondary pleasures; and in the practical enjoyment of works of art by the masses of mankind these secondary pleasures play a great part. The more classic one's taste is, however, the less relatively important are the secondary pleasures felt to be, in comparison with those of the primary sensation as it comes in. Classicism and romanticism have their battles over this point. Complex suggestiveness, the awakening of vistas of memory and association, and the stirring of our flesh with picturesque mystery and gloom, make a work of art romantic. The classic taste brands these effects as coarse and tawdry, and prefers the naked beauty of the optical and auditory sensations, unadorned with frippery or foliage. To the romantic mind, on the contrary, the immediate beauty of these sensations seems dry and thin. I am of course not discussing which view is right, but only showing that the discrimination between the primary feeling of beauty, as a pure incoming sensible quality, and the secondary emotions which are grafted thereupon, is one that must be made.