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Briga no Beco - Adélia Prado

Briga no Beco 
Encontrei meu marido às três horas da tarde
com uma loura oxidada.
 
Tomavam guaraná e riam, os desavergonhados.
 
Ataquei-os por trás com mãos e palavras
que nunca suspeitei conhecesse.
 
Voaram três dentes e gritei, esmurrei-os e gritei,
gritei meu urro, a torrente de impropérios.
 
Ajuntou gente, escureceu o sol,
a poeira adensou como cortina.
 
Ele me pegava nos braços, nas pernas, na cintura,
sem me reter, peixe-piranha, bicho pior, fêmea ofendida,
uivava.
 
Gritei, gritei, gritei, até a cratera exaurir-se.
 
Quando não pude mais, fiquei rígida,
as mãos na garganta dele, nós dois petrificados,
eu sem tocar o chão. Quando abri os olhos,
as mulheres abriam alas, me tocando, me pedindo graças.
 
Desde então faço milagres.
 
 
 
* É boa demais da conta essa mineira, né!?
 
Bjs,
 
Cintia

 

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