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NÃO SEI DANÇAR | manuel bandeira

petrópolis, 1925

Uns tomam éter, outros cocaína.

Eu já tomei tristeza, hoje tomo alegria.

Tenho todos os motivos menos um de ser triste.

Mas o cálculo das probabilidades é uma pilhéria...

Abaixo Amiel!

Eu nunca lerei o diário de Maria Bashkirtseff.

Sim, já perdi pai, mãe, irmãos.

Perdi a saúde também.

É por isso que sinto como ninguém o ritmo do jazz-band.

Uns tomam éter, outros cocaína.

Eu tomo alegria!

Eis aí por que vim assistir a este baile de terça-feira gorda.

Mistura muito excelente de chás...

________________________Esta foi açafata...

- Não, foi arrumadeira.

E está dançando com o ex-prefeito municipal:

tão Brasil!

De fato este salão de sangues misturados parece o Brasil...

Há até a fração incipiente amarela

na figura de um japonês.

O japonês também dança maxixe:

acugelê banzai!

A filha do usineiro de Campos

olha com repugnância

para a crioula imoral,

no entanto o que faz a indecência da outra

é dengue nos olhos maravilhosos da moça.

E aquele cair de ombros...

Mas ela não sabe...

Tão Brasil!

Ninguém se lembra de política...

Nem dos oito mil quilômetros de costa...

O algodão do Seridó é o melhor do mundo?... Que me importa?

Não há malária nem moléstia de Chagas nem ancilóstomos.

A sereia sibila e o ganzá do jazz-band batuca.

Eu tomo alegria!

**Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho (Recife, 19 de abril de 1886 - Rio de Janeiro, 13 de outubro de 1968)

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