Reforma ortográfica
A EVIDÊNCIA maior de que o acordo ortográfico da língua  portuguesa carece de prioridade está nos 18 anos decorridos entre a sua  assinatura e a aprovação pelo país de origem do idioma, Portugal. Com a  ratificação pelo Parlamento luso, cai a última grande barreira para sua adoção.  A nova ortografia torna-se assim uma realidade, por menos que agrade.
Há, com  efeito, várias razões para crítica. A maior parte das modificações parece  cosmética, para não dizer ociosa. Que importância pode ter omitir ou não a  consoante muda em "óptimo", como se usa em Portugal, ou sacar o acento agudo de  "idéia", empregado no Brasil? A ausência de padronização em documentos oficiais  e livros decerto não impede sua compreensão.
Diante da pequenez da mudança e  de sua irrelevância, é descomunal a energia a despender na assimilação das novas  regras pela população dos quatro países -Brasil, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe  e, agora, Portugal- da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) que já  adotaram o acordo de modo oficial; faltam ainda Angola, Timor Leste,  Guiné-Bissau e Moçambique.
Isso sem contar, por certo, a necessidade de  refazer matrizes de inúmeros dicionários e livros didáticos. Ou mesmo de  inutilizar os já impressos, dependendo do prazo fixado para vigência da nova  ortografia. Portugal estipulou prazo de seis anos para tanto, e poderia ter ido  além.
No Brasil, a implantação definitiva ainda depende de decreto  presidencial, mas o Ministério da Educação já determinou que em 2010 estejam  adaptadas todas as obras incluídas nos programas de aquisição de livros  didáticos. Um esforço gigantesco.
Mesmo não sendo boa idéia, a nova  ortografia está aí. Ótimo seria se o governo brasileiro seguisse o de Portugal,  abandonando a pressa injustificável.
FOLHA DE SP 25 de maio de 2008
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