Poema 1
Essa lua enlutada, esse desassossego
A convulsão de dentro, ilharga
Dentro da solidão, corpo morrendo
Tudo isso te devo. E eram tão vastas
As coisas planejadas, navios,
Muralhas de marfim, palavras largas
Consentimento sempre. E seria dezembro.
Um cavalo de jade sob as águas
Dupla transparência, fio suspenso
Todas essas coisas na ponta dos teus dedos
E tudo se desfez no pórtico do tempo
Em lívido silêncio. Umas manhãs de vidro
Vento, a alma esvaziada, um sol que não vejo.
Também isso te devo.
Essa lua enlutada, esse desassossego
A convulsão de dentro, ilharga
Dentro da solidão, corpo morrendo
Tudo isso te devo. E eram tão vastas
As coisas planejadas, navios,
Muralhas de marfim, palavras largas
Consentimento sempre. E seria dezembro.
Um cavalo de jade sob as águas
Dupla transparência, fio suspenso
Todas essas coisas na ponta dos teus dedos
E tudo se desfez no pórtico do tempo
Em lívido silêncio. Umas manhãs de vidro
Vento, a alma esvaziada, um sol que não vejo.
Também isso te devo.
Poema 1
This mournful moon, this unease
Inner turbulence, lagoon,
Inside of solitude, a dying body,
All this I owe you. Such immense
Plans and future, ships,
Walls of ivory, words full
Always consented to. It would be December.
A jade horse beneath the waters
Double transparency, a line in mid-air
All these things at your fingertips
All undone through the portal of time
Silent and blue. Some mornings of glass,
Wind, a hollow soul, a sun I can't see
This, too, I owe you.
Poema 2
Sorrio quando penso
Em que lugar da sala
Guardarás o meu verso
Distanciado
Dos teus livros políticos
Na primeira gaveta
Mais próxima à janela?
Silent and blue. Some mornings of glass,
Wind, a hollow soul, a sun I can't see
This, too, I owe you.
Poema 2
Sorrio quando penso
Em que lugar da sala
Guardarás o meu verso
Distanciado
Dos teus livros políticos
Na primeira gaveta
Mais próxima à janela?
Ou te cansas de ver
Tamanha perdição
Amorável centelha
No meu rosto maduro?
E te pareço bela
Ou apenas te pareço
Mais poeta talvez
E menos séria?
O que pensa o homem
Do poeta? Que não há verdade
Na minha embriaguez
E que me preferes
Amiga mais pacífica
E menos aventura?
Que é de todo impossível
Guardar na tua sala
Vestígio passional
Da minha linguagem?
Eu te pareço louca?
Eu te pareço pura?
Eu te pareço moça?
Ou é mesmo verdade
Que nunca me soubeste?
Tamanha perdição
Amorável centelha
No meu rosto maduro?
E te pareço bela
Ou apenas te pareço
Mais poeta talvez
E menos séria?
O que pensa o homem
Do poeta? Que não há verdade
Na minha embriaguez
E que me preferes
Amiga mais pacífica
E menos aventura?
Que é de todo impossível
Guardar na tua sala
Vestígio passional
Da minha linguagem?
Eu te pareço louca?
Eu te pareço pura?
Eu te pareço moça?
Ou é mesmo verdade
Que nunca me soubeste?
Poema 2
I smile when I wonder
Where in your room
You keep my verse.
Away from your
Political books?
In the first drawer
Close to the window?
Do you smile when you read
Or are you tired of seeing
Such abandon
Amorous spark
On my ripened face?
Do I seem beautiful
Or am I to you
Too much of a poet, perhaps,
And not serious enough?
What does the man think
Of the poet? That there's no truth
In my drunkenness
And that you prefer
A friend more peaceful
And less adventurous?
That you simply cannot
I smile when I wonder
Where in your room
You keep my verse.
Away from your
Political books?
In the first drawer
Close to the window?
Do you smile when you read
Or are you tired of seeing
Such abandon
Amorous spark
On my ripened face?
Do I seem beautiful
Or am I to you
Too much of a poet, perhaps,
And not serious enough?
What does the man think
Of the poet? That there's no truth
In my drunkenness
And that you prefer
A friend more peaceful
And less adventurous?
That you simply cannot
Keep in your room
Worldly traces
Of my passionate words?
Do you see me as mad?
Do you see me as pure?
Do you see me as young?
Or is it real
That you never knew me?
Worldly traces
Of my passionate words?
Do you see me as mad?
Do you see me as pure?
Do you see me as young?
Or is it real
That you never knew me?
POEMAS DE HILDA HILST do livro Júbilo, Memória, Noviciado da Paixão (1974). Versão para o inglês de Beatriz Cabral Bastos publicada em HILDA HILST: DOIS POEMAS, DUAS VERSÕES - Revista Tradução em Revista,Número 6 , Periódico de Estudos da Tradução, PUC-Rio, 2009
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