*************************************************************************************

................................

HAUSER

 

Até o século XVIII, os autores nunca haviam sido outra coisa

senão os porta-vozes do seu público; cuidavam dos seus leitores,

assim como os criados e empregados tratavam dos seus bens

materiais. Aceitavam e confirmavam os princípios morais e os critérios

de gosto geralmente reconhecidos, não os inventavam nem

os alteravam (...) É só no século XVIII que o público se separa

em dois campos diferentes, e a arte em duas tendências rivais.

Daí por diante, cada artista é confrontado por uma dualidade de

ordens opostas: o mundo da aristocracia conservadora e o da

burguesia progressiva, entre um grupo que se agarra obstinadamente

aos velhos valores, tradicionais e supostamente absolutos,

e outro que se baseia no ponto de vista de que mesmo esses

valores, e eles mais do que nada, são historicamente condicionados,

e que outros, mais recentes, estão mais de acordo com o

bem geral.

 

HAUSER, Arnold. História social da literatura e da arte, Tomo II.

Trad.: Walter Geenen. 3ª ed. São Paulo: Ed. Mestre Jou, 1982, p 884.

Samuel Beckett, Não Eu, 1972.

...re-explorando no passado...

pequenas cenas claras...

sobretudo passeios...

toda sua vida a passar...todos os dias de sua vida...

dia após dia...dois, três passos, depois pára...os olhos no vazio...

depois faz ainda dois, três...pára e o vazio de novo...assim segue...

a deriva...dia após dia...ou às vezes ela chora....sozinha com sua

recordação...desde os cueiros...do chorar nos cueiros...talvez não...

não indispensável a vida...a sobrevida...soluçar um ponto é tudo.

S. Beckett, Não Eu, 1972.