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REAL GABINETE PORTUGUES DE LEITURA

Livro de arte conta a história do Real Gabinete Português de Leitura

Leticia Helena


A homenagem não poderia ser mais adequada: o Real Gabinete Português de Leitura — uma jóia em estilo neo-manuelino, encravada no Centro do Rio, que abriga 350 mil obras raras — virou... livro de arte. Com textos das professoras Beatriz Berrini e Regina Anacleto e fotos de Valentino Fialdini e do próprio Real Gabinete, o livro, da Dezembro Editorial, faz um passeio pela arquitetura, pela história e pelo acervo da instituição, fundada em 1837, possivelmente no rastro das boutiques à lire que se espalhavam em Paris após a Revolução Francesa.

— Há uma teoria que indica que o gabinete do Rio, bem como os de Salvador e Recife, copiavam a idéia francesa de emprestar livros mediante o pagamento de uma pequena quantia. Mas, o fato é que, desde o começo, os diretores do Real Gabinete tiveram a preocupação de adquirir obras e coleções raras — diz o presidente da instituição, Antonio Gomes da Costa.

E bota raridade nisso. O Real Gabinete tem uma edição original de "Os Lusíadas", de Luís de Camões, de 1572, que pertenceu à Companhia de Jesus. Pelas prateleiras, é possível ainda encontrar manuscritos de Camilo Castelo Branco e Machado de Assis, entre outras raridades.

Para contar essas histórias, a editora conseguiu o patrocínio da Portugal Telecom e contratou duas feras no assunto: Beatriz Berrini, da Universidade Católica de São Paulo, especialista em Eça de Queirós, que fez um texto descritivo do Real Gabinete; e Regina Anacleto, da Universidade de Coimbra, considerada a maior autoridade mundial no período neo-manuelino, que escreveu sobre a arquitetura e a construção do imóvel.

— O livro é uma viagem por um Rio que poucos cariocas conhecem — diz o publisher da Dezembro Editorial, Alberto Veloso.




Foto da capa de 'Os Lusíadas' é um dos destaques


Para fazer essa viagem por um Rio quase desconhecido, o livro, em suas 104 páginas, oferece imagens deslumbrantes do Real Gabinete Português de Leitura, que hoje funciona, muito apropriadamente, na Rua Luís de Camões: são móveis, luminárias, corredores, prateleiras, bustos, quadros, moedas, objetos e livros, muitos livros. A capa da tal edição rara de "Os Lusíadas", por exemplo, é um dos destaques. Sem falar nas fotografias da fachada e dos detalhes arquitetônicos do interior do prédio, exemplar típico de um estilo consagrado no Mosteiro dos Jerônimos, em Portugal.

— O livro foi feito, originalmente, como um brinde de fim de ano da Portugal Telecom. Mas a repercussão foi tão grande que resolvemos fazer uma edição especial para vender em livrarias — conta Alberto Veloso. — Mandamos um exemplar para o "Le Monde", que vai fazer uma reportagem sobre o Real Gabinete — acrescenta ele, numa referência ao jornal francês.

Primeira sede foi na Rua Primeiro de Março

Prova do prestígio de um dos prédios mais bonitos do Rio. O Real Gabinete foi criado com o intuito de "promover a instrução e melhorar o nível de conhecimento" dos portugueses que chegavam ao Brasil em meados do século XIX. Inicialmente, funcionou num imóvel da Rua Direita, hoje Primeiro de Março. Depois, peregrinou por outros endereços até que, em 1880, por ocasião da comemoração do terceiro centenário da morte de Camões, foi iniciada a construção da atual sede.

Dom Pedro II lançou a pedra fundamental da construção e sua filha, a princesa Isabel, sete anos depois, inaugurou o prédio, projetado pelo arquiteto português Rafael da Silva e Castro. O gabinete de leitura, porém, só acrescentou o título de real em 1906, graças ao rei português D. Carlos, em 1906.

— No Brasil, a arquitetura neo-manuelina representou uma ligação quase umbilical com a mãe-pátria distante. O Real Gabinete é um exemplar perfeito do estilo — diz a professora Regina Anacleto, uma das autoras do livro.
March 06, 2005 O Globo

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