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O semantema glúteo tende à polissemia

 

Enviado por Miguel Conde - blog no O Globo
20/5/2008
Nos EUA e na Inglaterra, as sátiras ao universo acadêmico se tornaram freqüentes a ponto de constituírem, nas últimas cinco décadas, um subgênero literário, o campus novel. Até onde sei não existem muitos romances do tipo no Brasil (não lembro de nenhum, na verdade), mas não se deve atribuir essa escassez à falta de assunto. Como qualquer outra, a nossa vida universitária tem uma boa dose de ridículo, e poucas vezes ela foi tão bem exposta quanto nos "19 princípios para a crítica literária", divertida incursão pela paródia de Roberto Schwarz, certamente um dos maiores críticos do país.

Publicado originalmente em 1970, o texto volta às livrarias semana que vem como parte do volume "O pai de família - e outros estudos" (Companhia das Letras). Alguns dos princípios listados por Schwarz são marcados pelas discussões da época em que foram escritos, mas outros, como "resolva sempre sem entrar no mérito da questão" e "um doutoramento vale ouro", permanecem muito reveladores dos aspectos mais risíveis, mesquinhos e provincianos da vida intelectual brasileira. Meu preferido, como se vê pelo título do post, é "O semantema glúteo em lingüística moderna tende à polissemia", mas vários outros merecem ser reproduzidos aqui:

"Acusar os críticos de mais de quarenta anos de impressionismo, os de esquerda de sociologismo, os minuciosos de formalismo, e reclamar para si uma posição de equilíbrio."

"Citar em alemão os livros lidos em francês, em francês os espanhóis, e nos dois casos fora de contexto."

"Começar sempre por uma declaração de método e pela desqualificação das demais posições. Em seguida praticar o método habitual (o infuso)."

"Nunca apresentar a vida do autor sem antes atacar o método biográfico. Vários acertos podem ser compensados por uma redação horrível."

"Citar muito e nunca a propósito. Uma bibliografia extensa é capital. Apóie sua tese na autoridade dos especialistas, de preferência incompatíveis entre si."

"A argumentação deve ser técnica, sem relação com as conclusões."

"Publique longos resumos de livros sem importância, convença o editor a traduzi-los e o leitor a lê-los. Há quase 700 mil universitários no país."

"A crítica de nosso tempo é engajada e autêntica, e não descura de sua vocação profunda, de seu compromisso com o homem no que ele tem de eterno e no que tem de circunstancial, compromisso que irá cumprir resolutamente até o fim. Isto é que é importante."

"Muito cuidado com o óbvio. O mais seguro é documentá-lo sempre estatisticamente! Use um gráfico se houver espaço."



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