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ANA CRISTINA CESAR

DUAS ANTIGAS
I
Vamos fazer uma coisa:
escreva cartas doces e azedas
Abre a boca, deusa
Aquela solenidade destransando leve
Linhas cruzando: as mulheres gostamde provocação
Saboreando o privilégioseu livro solta as folhas
Aí então ela percebeu que seu olho corria
veloz pelo museu e só parava em três,
desprezando como uma ignorante os outros
grandes. E ficou feliz e muito certa com avolúpia da sua ignorância.
Só e sempre procura
essas frases soltas no seu livro
que conta história que não pode ser contada.
Só tem caprichos
É mais e mais diária– e não se perde no meio de tanta e tamanha
companhia

SETE CHAVES
Vamos tomar chá das cinco e eu te conto minha
grande história passional, que guardei a sete chaves,
e meu coração bate incompassado entre gaufrettes.
Conta mais essa história, me aconselhas
como um marechal do ar fazendo alegoria.
Estou tocada pelo fogo.
Mais um roman à clé?
Eu nem respondo.
Não sou dama nem mulher moderna.
Nem te conheço.
Então:É daqui que eu tiro versos,
desta festa – com
arbítrio silencioso e origem que não confesso –
como quem apaga seus pecados de seda,seus três
monumentos pátrios,e passa o ponto e as luvas.


CARTILHA DA CURA
As mulheres e as crianças são as primeiras
que desistem de afundar navios.


Ana Cristina Cesar, nasceu em 1952 nesta cidade do Rio de Janeiro. Após 1968, passou um ano em Londres, fez algumas viagens pelos arredores e, na volta, deu aulas, traduziu, fez letras, escreveu para revistas e jornais alternativos, e saiu na antologia "26 Poetas Hoje", de Heloísa Buarque. Publicou, pela Funarte, pesquisa sobre literatura e cinema, fez mestrado em comunicação, lançou seus primeiros livros em edições independentes: "Cenas de Abril" e "Correspondência Completa". Dez anos depois voltou à Inglaterra, graduou-se em tradução literária, escreveu muitas cartas e editou "Luvas de Pelica". Trabalhou em jornalismo, televisão e escreveu "A Teus Pés", Editora Ática - São Paulo, 1998. Suicidou-se no dia 29 de outubro de 1983.

SOBRE ANA CRISTINA CESAR Ítalo Moriconi escreveu:

"Ana Cristina dizia que uma das facetas do seu desbunde fora abandonar a idéia de ser escritora, livrar-se do que ela naquele momento julgava ser sua face herdada, o estigma princesa bem-comportada, alguém marcada para escrever".

Extraído de http://www.releituras.com/anacesar_sono.asp

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