Doces lembranças da passada glória,
que me tirou Fortuna roubadora,
deixai-me repousar em paz üa hora,
que comigo ganhais pouca vitória.
Impressa tenho n'alma larga história
deste passado bem que nunca fora
(ou fora, e não passara); mas já agora
em mim não pode haver mais que a memória.
Vivo em lembranças, mouro de esquecido
de quem sempre devera ser lembrado,
se lhe lembrara estado tão contente.
Oh! quem tornar pudera a ser nascido!
Soubera-me lograr do bem passado,
se conhecer soubera o mal presente.
Soneto de Luís Vaz de Camões. Imagem: As sete idades da mulher, de Hans Baldug Grien
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